Erdogan tem mais votos na Turquia, mas haverá 2º turno contra Kilicdaroglu

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© REUTERS/Umit Bektas / POR FOLHAPRESS / MILÃO, ITÁLIA

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Em terceiro lugar, ficou Sinan Ogan, nacionalista de ultradireita, tem 5,24%

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O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, 69, há 20 anos no poder, saiu na frente na disputa pela reeleição, mas não conseguiu fechar a fatura no primeiro turno realizado neste domingo (14). Durante a maior parte da apuração, Erdogan aparecia com mais de 50% dos votos, o que indicava que ele poderia seguir no comando do país por mais cinco anos.

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Mas a tendência da apuração na reta final apontou para um segundo turno. Com 99% das urnas abertas, o atual presidente contabiliza 49,4% dos votos, enquanto seu principal adversário, Kemal Kilicdaroglu, 74, aparece com 44,96%, segundo a agência de notícias estatal Anadolu. Quando nenhum dos candidatos alcança mais de 50%, a lei eleitoral prevê uma segunda rodada, prevista para 28 de maio.

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Em terceiro lugar, ficou Sinan Ogan, nacionalista de ultradireita, tem 5,24%. Mesmo tendo anunciado a desistência a três dias da votação, Muharrem İnce aparece na quarta posição, com 0,43% dos votos, uma vez que seu nome não pôde ser removido da cédula.

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Aliados da oposição acusaram a Anadolu de divulgar, no início da contagem de votos, números parciais que eram favoráveis ao presidente, deixando-o em maior vantagem. Mais tarde, o prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, candidato a vice-presidente na chapa da oposição, disse que o partido de Erdogan estava apresentando objeções em distritos liderados por Kilicdaroglu, o que atrasou a apuração.

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Por volta das 21h (horário local), os dois candidatos foram às redes sociais pedir que os observadores dos partidos não abandonassem a contagem das urnas até o término da apuração. “Embora a eleição tenha ocorrido em uma atmosfera positiva e democrática e a contagem dos votos ainda esteja em andamento, tentar anunciar os resultados às pressas significa usurpar a vontade nacional”, disse Erdogan.

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“Os observadores eleitorais e os funcionários do conselho eleitoral não devem deixar seus lugares. Não vamos dormir esta noite, meu povo”, escreveu Kilicdaroglu, apostando na mesma estratégia.

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A apuração avançou pela madrugada. Depois das 2h (20h em Brasília), Erdogan subiu ao palco em Ancara e, além de reforçar o pedido aos militantes do seu partido, disse que ainda acreditava que poderia vencer o pleito no primeiro turno. Acrescentou, porém, que vai respeitar uma possível segunda rodada.

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Havia certo receio de que o presidente se recusasse a deixar o posto em caso de derrota ou que embarcasse em um discurso de fraude, à semelhança de outras lideranças de seu espectro político. Esse temor, a princípio, foi atenuado pela fala do turco. “Na minha vida política, sempre respeitei a decisão [do povo]”, disse. “Espero a mesma maturidade democrática de todos.”

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Kilicdaroglu, acompanhado de outros líderes da coalizão opositora, também deixou novo recado durante a madrugada. Disse que aceitava a decisão dos turcos que o escolheram para o segundo turno e prometeu vencer a disputa, alfinetando o adversário ao dizer que Erdogan não conseguiu o resultado que queria.

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Seja como for, esta já foi a eleição mais acirrada da qual Erdogan participou. Entre 2003 e 2014, ele foi primeiro-ministro, após seu Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) conquistar a maioria dos votos em 2002, 2007 e 2011. Em 2014, quando a eleição presidencial passou a ser por voto direto, depois de uma reforma eleitoral, Erdogan venceu no primeiro turno com quase 52% dos votos.

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Quatro anos mais tarde e nova mudança nas regras, que acabou com a figura do premiê, repetiu o feito, com quase 53%. Segundo pesquisa Metropoll realizada entre os dias 9 e 10 de maio, Kilicdaroglu aparecia em vantagem no segundo turno, com 48% das intenções de voto, diante de 45% do atual presidente.

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Teme-se que um novo mandato possa consolidar a guinada autocrática e autoritária de Erdogan, intensificada depois de uma tentativa de golpe, em 2016, orquestrada por parte das Forças Armadas. Em duas décadas, Erdogan concentrou poderes como presidente, diminuiu a independência do Judiciário e do banco central, prendeu opositores e controlou a mídia por meio de intimidação e de aliados no comando.

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Embora tenha tido sua popularidade desgastada pela crise econômica, com hiperinflação e desvalorização da moeda, Erdogan, que distanciou o país dos princípios laicos sobre os quais a Turquia moderna foi fundada há um século, beneficia-se do apoio dos segmentos mais conservadores do eleitorado. Também superou as críticas que envolveram as causas e as respostas ao terremoto que matou mais de 50 mil pessoas na Turquia em fevereiro.

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Já Kiricdaroglu é funcionário público aposentado e foi parlamentar por duas décadas. Ele prometeu na campanha restaurar o sistema parlamentar e a independência do Judiciário e do banco central, com a adoção de uma política econômica ortodoxa, como forma de recuperar a economia, abalada por decisões equivocadas de Erdogan que levaram a inflação a 85% no passado e à desvalorização da moeda.

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O perfil tranquilo, que, por anos, era visto como fraqueza, se transformou em trunfo, pela necessidade de conciliar a ampla e diversa aliança, além de contrapor a retórica populista do adversário. Além do Partido Republicano Popular (CHP), de centro-esquerda, do qual Kilicdaroglu é presidente desde 2010, a chapa inclui laicos, conservadores islâmicos, nacionalistas e liberais.

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Escolhido em março para a função, Kilicdaroglu não era o nome mais óbvio. Ele era considerado menos competitivo que os prefeitos de Istambul e Ancara, ambos vitoriosos em 2019 contra aliados de Erdogan.

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Longas filas foram registradas em diversos pontos de votação, que aconteceu sem incidentes. A afluência às urnas foi de 88%, diante de cerca de 86% há cinco anos. O eleitorado apto a votar é de 64 milhões de pessoas, sendo 3,4 milhões registrados no exterior. A população total residente no país é de 85 milhões.

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Os dois candidatos votaram pouco antes das 12h (horário local). “Rezamos por um futuro melhor para nosso país, nação e democracia turca”, disse Erdogan, que votou em Istambul.

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Já Kilicdaroglu votou em Ancara. “Ofereço meu mais sincero amor e respeito a todos os meus cidadãos que estão indo às urnas. Todos nós sentimos muita falta da democracia”, disse.

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Neste domingo, os turcos também votaram para preencher as 600 vagas do Parlamento. Com 97% das urnas apuradas, a coligação de Erdogan tinha 49,34% dos votos, à frente da aliança da oposição, com 35,19%. Caminhando para ser a terceira força no Parlamento, a chapa Esquerda Verde tinha 10,42%, com apoio de eleitores da minoria curda.

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Foi uma campanha marcada pela tensão na reta final, com agressões físicas e acusações de conteúdo mentiroso. Kilicdaroglu acusou a Rússia de Vladimir Putin, próximo de Erdogan, de tentar interferir nos resultados -o que Moscou nega.

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Considerada uma das eleições mais importantes do ano, a disputa na Turquia vem sendo acompanhada com olhos atentos pelos países vizinhos do Oriente Médio e da Europa, pelos aliados da Otan e da Rússia. Além das implicações internas, o pleito pode ter repercussões no contexto geopolítico. Um dos legados de Erdogan é ter transformado a Turquia em um protagonista regional e ator relevante global, tirando proveito da posição estratégica no mapa.

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No contexto da Guerra da Ucrânia, Erdogan tenta se equilibrar como membro da Otan, liderada pelos EUA, e, ao mesmo tempo, como parceiro econômico de Putin, com quem compartilha o discurso ultraconservador pró-família tradicional e anti-LGBTQIA+. A Turquia não aderiu às sanções ocidentais impostas à Rússia após a invasão.

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No ano passado, mediou, graças ao relacionamento pessoal entre Erdogan e o presidente russo, a exportação de grãos da Ucrânia, evitando o agravamento de uma crise alimentar global. As negociações com Moscou para liberar a safra deste ano estão em andamento.

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Kilicdaroglu já disse que aprovaria a entrada de novos membros na Otan, como a Suécia, vetada por Erdogan. Por outro lado, é improvável que a Turquia, mesmo sob nova direção, alinhe-se ao Ocidente em relação às sanções impostas a Moscou depois da invasão.

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