Psicóloga da Hapvida, Karina Siqueira, explica como os pais podem identificar os sinais, intervir de forma saudável e proteger o desenvolvimento dos filhos
Em um mundo cada vez mais conectado, onde a linha entre a infância e a vida adulta parece se tornar mais tênue a cada dia, uma pergunta crucial surge para os pais: quando é hora de se preocupar com o comportamento dos filhos? De acordo com a psicóloga Karina Siqueira, da Hapvida, o alerta deve ser aceso por volta dos 12 ou 13 anos, a pré-adolescência, período em que o desejo de pertencimento a um grupo se intensifica e pode abrir as portas para um fenômeno preocupante: a adultização.
Mas, afinal, o que é a adultização? A psicóloga define o conceito como a absorção, pela criança ou adolescente, de “conteúdos, comportamentos e posturas que não são adequados para a sua idade e não condizem com a sua faixa etária”. Em outras palavras, é pular etapas cruciais do desenvolvimento.
O processo começa, frequentemente, com a entrada na vida virtual. “É nesse momento que ele começa a ter contato com os fatores de adultização”, explica Karina. O pré-adolescente, em sua busca natural por se encaixar em um grupo – que muitas vezes já é formado por outros jovens “adultizados” –, começa a imitar atitudes, linguajar e vestimentas que vê como “normais” nesse ambiente, mas que são inadequados para sua fase.
Quanto aos sinais de alerta e a importância de inibir a adultização, a especialista afirma é possível percebê-los. Os principais incluem: alta exposição na internet; uso de linguajar impróprio e vestimentas inadequadas para a idade; comportamentos de risco; perda de interesse por atividades típicas da sua fase, como brincadeiras e socializações saudáveis com os pares.
Inibir esse processo é fundamental, pois pular etapas do desenvolvimento é “sempre muito prejudicial”. Karina Siqueira ressalta que é “importantíssimo vivenciar os momentos, os erros, ir ao cinema com os amigos, aprender a administrar um dinheirinho contado. São essas vivências que constroem a base para um adulto emocionalmente saudável”, garante a psicóloga da Hapvida.
Como reverter a conduta sem provocar revolta?
A especialista é categórica: a chave não é proibir, mas oferecer um ambiente de desenvolvimento saudável. Isso significa estimular que o pré-adolescente viva a sua própria fase. “Ele já tem que ter um pouco mais de autonomia e contato social com amigos, que é importantíssimo, pois é algo que se torna prioridade para ele”, afirma.
A especialista ressalta que os pais devem incentivar as interações de modo seguro – combinando horários para sair, dando uma mesada para que aprenda a administrar o dinheiro –, em vez de simplesmente censurar o comportamento adultizado.
“A ideia é substituir a experiência negativa por uma positiva, mostrando que a adolescência tem prazeres e aprendizados próprios que valem a pena ser vividos no momento certo”, sugere.
Consequências para a vida adulta
Os efeitos da adultização precoce vão muito além dos riscos imediatos, como vícios ou exposição a perigos. O prejuízo é a longo prazo. Um adolescente que “pulou” fases chega à vida adulta esvaziado. “Ele já terá vivenciado tudo que teria que viver. Vai entrar naquela crise existencial que a gente vê muitos jovens adultos hoje em dia: não saber mais o que fazer”, alerta a psicóloga.
Esse vazio existencial é um terreno fértil para o desenvolvimento de depressão, ansiedade e outros transtornos emocionais. O jovem adulto que não construiu as fundações sólidas de uma infância e adolescência bem vividas pode se encontrar perdido, sem referências e sem a resiliência necessária para os desafios da maturidade.
Karina destaca: “O caminho, portanto, não é acelerar, mas sim valorizar cada momento”. Permitir que as crianças sejam crianças e que os adolescentes vivam plenamente sua adolescência é o maior investimento que os pais podem fazer para um futuro adulto equilibrado e realizado.
Fonte: Assessoria de Imprensa
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