O potencial dos canabinoides nos tratamentos de dor

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Tratamentos para o manejo da dor: derivados da maconha podem ser uma opção para reduzir o uso de opioides — Foto: Epyc Wynn por Pixabay

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Especialista afirma que derivados da maconha podem ser uma opção para reduzir o uso de opioides

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POR: G1 – Rio de Janeiro

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No começo do mês, assisti a uma aula da médica carioca Mariana Mafra Junqueira, especialista em dor, na 4ª. Jornada de Canabinoides, promovida pela Associação Paulista de Medicina. Referência em sua área de atuação, é uma estudiosa dos canabinoides – as substâncias derivadas da Cannabis sativa, a maconha – no manejo da dor crônica e oncológica. Qualquer um que tenha convivido com alguém com câncer sabe que, principalmente em estágios mais avançados, o desconforto é enorme, e vem crescendo o consenso entre os profissionais de saúde sobre sua utilização como droga adjuvante (auxiliar), como ela explica:

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“Introduzir os canabinoides pode ser uma opção para reduzir o uso de opioides, devido ao risco de dependência. Há pacientes que encaram a prescrição com desconfiança, fazendo perguntas como: ‘você vai me receitar maconha?’. E há outros que chegam ao consultório trazendo essa demanda”.

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A médica diz que, de 2020 para cá, aumentou o número de trabalhos publicados sobre o assunto, mas as evidências ainda não são fortes e os estudos, mal desenhados, o que dificulta a tomada de decisão. No entanto, afirma que os canabinoides atuam positivamente no manejo da ansiedade e na qualidade do sono, dois aspectos relevantes num quadro de dor crônica:

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“A questão da dor envolve inúmeros aspectos relacionados à qualidade de vida. Diminuir a ansiedade e melhorar o sono já trazem benefícios. A capacidade funcional do paciente deve ser preservada. Não adianta ministrar uma alta dose que comprometa essa capacidade, que o deixe sedado”.

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E por que os derivados da maconha são tão promissores? Nosso cérebro tem receptores (CB1 e CB2) que são estimulados por canabinoides produzidos pelo organismo, chamados de endocanabinoides e responsáveis por uma extensa lista de funções, incluindo ansiedade e humor. A maconha, por sua vez, tem inúmeros compostos químicos, entre eles o CBD (canabidiol), o THC (tetraidrocanabinol) e o canabigerol. Tais compostos são fitocanabinoides, isto é, também são canabinoides e, por este motivo, conseguem estimular os receptores humanos com eficiência.

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O CBD é capaz de atuar na dor, como antiinflamatório, ansiolítico, antipsicótico e na modulação imune. O THC age para melhorar apetite, náusea, dor, espasticidade, ansiedade e estresse pós-traumático. No evento, os especialistas enfatizaram o “efeito entourage”: a sinergia entre os canabinoides potencializa seus efeitos.

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Isso ocorre em produtos conhecidos como “full spectrum”, um extrato com todos os componentes da planta. Os produtos “broad spectrum” não contêm THC, ou a substância aparece em níveis desprezíveis; além disso, está disponível o canabidiol isolado. Quando entrevistei a psiquiatra Ana Gabriela Hounie, uma das autoras do “Tratado de Cannabis medicinal: fundamentos para a prática clínica”, ela foi enfática:

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“A medicina canabinoide tem um amplo espectro de utilização em patologias neurodegenerativas, como demências, Parkinson ou esclerose múltipla. Ainda há poucos estudos publicados e nenhum interesse por parte da indústria farmacêutica, porque seu objetivo é sintetizar novas drogas e ganhar milhões com patentes, mas as famílias testemunham as mudanças dos pacientes. É uma revolução”.

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